A proposta deste texto é refletir sobre a chamada “psicanálise aplicada à terapêutica”. Tomaremos como norte as “Entrevistas do Momento Atual”[1], um fórum de discussão sustentado por analistas da Associação Mundial de Psicanálise, de outubro a dezembro de 2008 (totalizando 36 entrevistas). Neste debate, os analistas das Escolas da AMP dão seu testemunho e suas reflexões sobre o CPCT[2], a psicanálise aplicada e a questão da formação psicanalítica.
Um dos efeitos do
debate suscitado pelas “Entrevistas do Momento Atual” foi uma reorientação com
relação à psicanálise aplicada. A política dos Centros de Atendimento se
enfraquece e um movimento em direção à Escola e às Seções Clínicas é retomado,
via psicanálise pura.
Procuraremos contextualizar esse duplo movimento,
primeiro de uma orientação e desenvolvimento da psicanálise aplicada, e de um
posterior recuo dessa orientação, principalmente a partir do momento em que
movimentos contrários à psicanálise colocaram em marcha uma política
avaliacionista na França, encabeçada pela psiquiatria.
A
psicanálise aplicada é recente?
Partimos de uma hipótese inicial: a de que a psicanálise
aplicada seria uma prática recente no meio analítico, e não haveria ainda uma
elaboração suficiente em torno dessa prática. Nada mais justo: se fosse mesmo
algo recente, a comunidade analítica deveria desconfiar de sua aplicação,
metodologia e fundamentação teórica, e pressionar para que sua legitimidade
pudesse ser sustentada. A crítica maior seria a de que a psicanálise aplicada
não guardaria o rigor próprio à prática analítica tradicional, não podendo ser
considerada psicanálise, parecendo mais com uma psicoterapia camuflada que
teria sucumbido ao discurso do mestre e à exigência do Outro social por
“efeitos terapêuticos rápidos”.
Ao investigarmos os textos freudianos, constatamos que a
psicanálise aplicada à terapêutica não é recente. Dito de outro modo, a
presença da terapêutica em psicanálise não é recente. Ela está presente nas
origens da própria construção freudiana, como um momento de uma análise em que
os efeitos terapêuticos – ou a diminuição dos sintomas e/ou do sofrimento –
estão em evidência.
Desde a época de Freud até hoje as pessoas buscam uma
análise por conta de um sofrimento que desejam ver aliviado em seus sintomas,
na expectativa de obter efeitos terapêuticos. Toda análise passa
necessariamente por uma psicanálise aplicada à terapêutica, como um momento
dialético necessário em toda e qualquer análise. Porém, como bem salienta
Freud, este momento é necessário, mas não suficiente: uma análise não deve se
contentar com os efeitos terapêuticos, pois aí ela não seria mais psicanálise,
não passando de psicoterapia. Diz ele que o diferencial da psicanálise em
relação a outras propostas terapêuticas é a produção de um “a mais”, um saber
sobre o inconsciente que vai além do benefício terapêutico obtido pelo alívio
do sintoma:
A
psicanálise começou como um método de tratamento; mas não quis recomenda-lo ao
interesse dos senhores como método de tratamento e sim por causa das verdades
que ela contém, por causa das informações que nos dá a respeito daquilo que
mais nos interessa aos seres humanos – sua própria natureza – e por causa das
conexões que ela desvenda entre as mais diversas atividades. [3]
Em Lacan constatamos também a presença da psicanálise
aplicada. Na vertente política, na inserção da psicanálise aplicada na política
da Escola com a criação da “Seção de Psicanálise Aplicada”, em 1964[4].
E em seus efeitos na formação de novos analistas, dado que é pela prática em
instituição que muitos praticantes entram e se iniciam no campo, na “atmosfera
psicanalítica”[5],
como diz Lacan. Ele evidencia a importância da prática clínica institucional e
seus efeitos de formação, tendo guardado contato com a prática em instituição
durante toda sua vida, através de sua “apresentação de doentes de
Henri-Rousselle em Saint-Anne”[6],
como nos lembram Judith Miller e Jean-Daniel Matet. Porém, Lacan sempre deixou
clara sua limitação, problematizando a redução da formação em psicanálise à
prática institucional. Abordaremos esse ponto mais à frente.
Encontramos duas indicações clínicas da prática da
psicanálise aplicada à terapêutica na literatura analítica. Com relação à
neurose, como um momento necessário e dialético de toda e qualquer análise em
que os efeitos terapêuticos estão em evidência. Com relação à psicose, terreno
onde o laço transferencial encontra-se dificultado ou impedido, como uma
necessária adaptação da técnica e do enquadre clássicos, para que a psicanálise
possa servir à construção psicótica, no restabelecimento de um certo enlace ao
social. Deste modo, é a via da suplência, da estabilização, da terapêutica, que
é privilegiada no tratamento da psicose.
Temos a hipótese de que a pertinência da psicanálise
aplicada voltou a ser questionada a partir de um momento preciso, quando a
psicanálise em si passa a ser atacada com virulência por uma política de
avaliação perversa e por setores da psicologia cognitivo-comportamental. Dividiremos
esses dois momentos: primeiro, de uma orientação em direção à psicanálise
aplicada, e um segundo momento em que há um recuo desta orientação, em uma
tentativa de defender a especificidade da psicanálise frente ao avanço de uma
política autoritária de regulamentação das psicoterapias e de sua subordinação
à medicina.
Uma
política em direção à psicanálise aplicada
Principalmente a partir do seminário de 1955 sobre as
psicoses, encontramos uma recomendação precisa de Lacan: não recuar diante das
psicoses. Tal recomendação assevera que um trabalho baseado na psicanálise pode
e deve ser indicado a sujeitos desarrimados, cuja referência simbólica ao Pai
está forcluída, desde que as balizas técnicas quanto ao setting, ao
divã, à transferência, à interpretação, sejam adaptadas para servir à criação
do sujeito psicótico. Aqui, a psicanálise aplicada à terapêutica estaria
indicada por conta da estrutura, visando efeitos terapêuticos, para não
arranhar o frágil espelho do sujeito ou desconstruir a certeza de suas
identificações delirantes:
Todas essas indicações não
impediram Lacan de aconselhar os analistas sobre a prudência terapêutica, em
particular quando os incitou a não recuar diante da psicose. Desde o
Seminário 3 ele fazia recomendações precisas nesse sentido, pois se tratava, é
claro, de não fazer desencadear uma psicose compensada, incitando alguns
sujeitos à associação livre, abalando suas defesas, impelindo-os a fazer sair
os demônios até então escondidos.[7]
Há mais de 30 anos várias
instituições inspiradas no ensino de Lacan se dedicam ao tratamento e
acolhimento das psicoses, dentre elas o Courtil, Antenne 110, Bonneuil,
baseando-se na psicanálise para fundar uma clínica aplicada às psicoses. Essas
instituições buscaram expandir os limites encontrados na prática clínica
tradicional pelas dificuldades impostas pela estrutura. Em face da psicose,
nada de travessia do fantasma. Para os casos de forclusão simbólica, uma
terapêutica seria visada, como uma maneira de reconstrução imaginária do Pai
forcluído, de estabilização sempre constante do delírio, em uma prática que se
apoiaria na construção de uma montagem institucional que possibilitasse uma
circulação possível pelo social, e uma diluição da transferência através de uma
“prática entre vários”.
Enquanto a psicanálise aplicada à terapêutica esteve
condicionada a essa prática clínica junto às psicoses, a comunidade analítica
aceitou seus fundamentos, sua práxis, seu desenvolvimento teórico, e sua
filiação à psicanálise. Como salientava Mannoni, fundadora de Bonneuil:
O paradoxo de Bonneuil é que não se pratica
aí a psicanálise (isso é concomitante à recusa da instituição), mas tudo o que
aí se faz baseia-se rigorosamente na psicanálise, à qual não se recorre como
técnica de ajustamento mas, outrossim, como subversão de um saber e de uma
práxis.[8]
Nessas instituições não são propostos tratamentos
psicanalíticos stricto sensu, mas uma ética pautada na psicanálise, ou
seja, uma ética do sujeito. Essas instituições sempre deixaram claro que a
adaptação à técnica obedecia estritamente à ética psicanalítica, não ferindo os
cânones da psicanálise, e contribuindo para a produção de uma vasta
bibliografia clínica, ajudaram a solidificar os fundamentos teóricos disto que
se convencionou chamar “psicanálise aplicada à terapêutica”. Como diz Dominique
Holvoet, um dos diretores clínicos do Courtil:
Nas instituições da RI³ [Rede Internacional de
Instituições Infantis] a psicanálise está sempre êxtima à instituição.
Disso sou testemunha porque cerca de 30 anos mais tarde essas instituições,
muitas outras com elas, atualmente, conservam intacta e viva sua relação com a
psicanálise. A receita: o gosto pelos estudos, transmitido por anos em que não
se cedeu diante do estudo de textos difíceis; nenhum lugar para a identificação
ao “psi”; o dedo apontado na direção da Escola e seus arredores, como lugar de
formação; a análise pessoal como prévia a qualquer responsabilidade assumida.
Deste modo, a psicanálise não é aí um fato estabelecido, mas uma experiência.[9]
Por não estar a psicanálise, nestes lugares, sedimentada
como um “fato estabelecido”, mas antes como uma experiência de linguagem,
nessas instituições os técnicos não são chamados “psicanalistas”, mas
“praticantes”, “intervenantes”, ou “analisantes civilizados” (segundo a expressão de Eric Laurent[10]),
atravessados por uma ética da psicanálise pura, que orienta suas próprias
análises e suas formações:
O que procede da “prática
entre vários” encontra seu fundamento no movimento de desidentificação ao qual
está convidado o praticante, desde seus primeiros passos. Desta forma, Antenne
110 definiu sua ação como sendo baseada sobre a psicanálise sem a
dispensar. O Courtil escolheu denominar seus praticantes pelo termo
genérico de “intervenantes”, para romper com a identificação ao psicólogo, ao
educador, ou ao especialista. (...) Ela [a psicanálise] é para nós uma
referência de trabalho edificante, um campo de pesquisa permanente, e,
principalmente, uma ética que o senhor formulou, como tal, em sua Clínica
Irônica: “Diante do louco, do delirante, não te esqueças de quem tu és, de
que tu foste analisante, e que tu também falavas do que não existe”.[11]
A Escola abrigou esta prática clínica e seu desenvolvimento
teórico, culminando nas três conversações clínicas sobre as psicoses ordinárias
em 1996, 1997 e 1998[12],
com a elaboração de uma clínica dos “casos inclassificáveis”; também o desenvolvimento teórico de Jacques-Alain
Miller em seu Curso de Orientação
Lacaniana e o estabelecimento e publicação dos seminários do último ensino de
Lacan ajudaram a sedimentar a elaboração em torno da teoria dos nós e do sinthoma,
que permitiram uma releitura da
clínica. Esse caminho, Hugo-Freda o salienta:
O CPCT era um momento particular e o produto de uma
longa história que inclusive podemos rastreá-la. Penso em 1996, quando
aconteceu Angers, Arcachon, todas essas séries de movimentos que
animaram e que deram como resultado, entre outros, no “Ateliê de Psicanálise
Aplicada”, em 2001. Havia ali uma nova clínica.[13]
Este crescimento
em torno da psicanálise aplicada não ocorre por acaso, nem de maneira isolada.
Concomitante a este desenvolvimento teórico, há uma orientação política da ECF
e da AMP em direção à psicanálise aplicada, que tem início com a criação da RI
³ (Rede Internacional de Instituições
Infantis) por Jacques-Alain Miller
em 1992, que reúne três instituições fundadoras (Courtil, Antenne 110,
CTR de Nonette), cinco outras instituições associadas (da Bélgica e da
França), e conta com a participação de diversas instituições da Espanha,
Itália, Israel, que “encontram no ensino de Freud e Lacan a orientação própria
à sua ação”[14].
Em 2001, há a criação do Ateliê de Psicanálise Aplicada; a criação do CPCT, em
2003; do PIPOL (Programa Internacional de Pesquisa em Psicanálise Aplicada de Orientação
Lacaniana), cujo primeiro encontro ocorre também em 2003; e a criação da RIPA
(Rede de Instituições de Psicanálise Aplicada), na qual mais de cinqüenta
instituições estão vinculadas.
A pertinência da
psicanálise aplicada sustenta-se então por sua referência dialética e constante
à psicanálise pura, como salientam Jean-Daniel Matet e Judith Miller:
A novidade ressalta a disciplina pela qual os
analistas estão atualmente suficientemente armados, e pela qual eles podem
prestar contas da aplicação que eles fazem da psicanálise, precisamente à luz
da psicanálise pura.[15]
Se por um lado este crescimento da prática da psicanálise
aplicada é efeito de um desenvolvimento teórico, como uma conseqüência lógica do desenvolvimento conceitual em torno do
último ensino de Lacan e da clínica dos nós, ele é também efeito de uma
série de eventos políticos que tomam de assalto a saúde mental na França. Uma
política de avaliação da eficácia das práticas terapêuticas é colocada em cena,
obrigando os analistas a saírem de seus consultórios e a se posicionarem
claramente na cidade em uma tomada de
posição política pela psicanálise, como
uma resposta às tentativas de regulamentação e avaliação das profissões de
saúde mental.
Uma
política de avaliação: o “Relatório Cléry-Melin” e a “Emenda Accoyer”
Em 10 de fevereiro de 2003, o Ministro da Saúde francês,
J.-F. Mattei, solicita um relatório ao psiquiatra Philippe Cléry-Melin (ao qual
se juntam Jean-Charles Pascal e Viviane Kovess), com a finalidade de elaborar um plano de ações sobre a reorganização da
oferta em psiquiatria e saúde mental no território francês. Este relatório fica
pronto em 15 de setembro de 2003, e fica conhecido como o “Plano de Ações
Cléry-Melin” [16].
Este relatório
sugere que seja feita uma reorganização no sistema da saúde mental, submetendo
todos os trabalhadores da saúde mental ao comando da psiquiatria. Ele é feito
com a intenção de excluir os profissionais e os representantes da
psicanálise, da psicologia clínica e das psicoterapias, e de todos os outros
profissionais atuantes na área da saúde mental, constituindo-se como um ato de
submissão à ideologia e à prática médicas.
Este relatório
tem como título “Plano de ações para o desenvolvimento da psiquiatria e a
promoção da saúde mental”, e propõe uma avaliação das práticas psicoterápicas
pela medicina: “avaliação da eficácia dos tratamentos, a colocação à disposição
dos tratamentos mais eficazes para um dado problema, e uma avaliação contínua
da qualidade”.[17]
A psiquiatria
deve passar a ser a responsável por recomendar o tratamento “adequado” em saúde
mental, do uso de medicamentos à orientação de psicoterapia, e indicar um
profissional validado segundo a linha que ela – a psiquiatria – julga ser a
mais indicada em cada caso, tirando também do paciente o direito de decisão:
No
total, esta confusão entre diferentes níveis de problemas, a liberdade de
escolha do tipo de praticante e do lugar da consulta, da qual dispõe o
paciente, ligada à liberdade de instalação dos praticantes, tem um preço que
coloca atualmente o sistema em falha.[18]
Quanto à
avaliação psicodinâmica do paciente, diz o relatório:
A
avaliação psicodinâmica – os sintomas apresentados são singulares a cada
paciente, e sentidos por cada pessoa em seu próprio contexto e história subjetiva
pessoal – é a essência mesma da avaliação terapêutica desta disciplina
particular [a psiquiatria].
Quanto à
avaliação das práticas psicoterápicas:
Nós
propomos a criação de uma nomenclatura de atos psicoterápicos divididos em seus
diversos tipos (psicanalítico, cognitivo comportamental, sistêmico) e
modalidades (individual ou em grupo). Os critérios de descrição desses atos se
apoiarão na expertise do INSERM, cujos resultados estarão disponíveis ao fim
deste ano[19].
Ela comportará uma descrição das técnicas, de suas indicações respectivas, e
precisará as formações necessárias para a prática do ato e do tipo de
psicoterapia (formação inicial e contínua a partir de uma lista de escolas
validadas). A nomenclatura deverá comportar a descrição da técnica de referência
e de seu desenvolvimento, a duração média das sessões, sua freqüência, a
duração prevista do tratamento.
Nós
propomos estabelecer e tornar pública uma lista de profissionais habilitados a
praticar as psicoterapias.
Os
profissionais, fora os psiquiatras, que estarão inscritos, deverão, para
utilizar essas técnicas, ter validada uma formação clínica que os permita fazer
indicações em função das recomendações da boa prática, e ter seguido as
formações iniciais e contínuas previstas por suas escolas [validadas].
Neste
período transitório, os psicólogos e os médicos, fora os psiquiatras, que
desejam estar habilitados a praticar as psicoterapias, deverão fazer validar
sua experiência clínica através de estágios, e sua formação às psicoterapias
pelas escolas [validadas].
Instaurar
um sistema que permita a avaliação do estado clínico e das indicações
terapêuticas por um psiquiatra coordenador. Poderão se dirigir a ele todos os
atores da psicoterapia e da saúde mental sobre o território (clínico geral, pediatras,
psicólogos, assistentes sociais, etc.). Este psiquiatra coordenador terá por
missão aconselhar o praticante e vigiar as recomendações da boa prática.
No
caso em que uma psicoterapia seja solicitada a um psicólogo, nós preconizamos
uma avaliação conjunta psiquiatra-psicólogo, para aportar à indicação de
psicoterapia.
É descabida a
submissão dos profissionais de práticas diversas que atuam na saúde mental, das
diferentes áreas do saber, de diferentes discursos históricos, éticos,
ideológicos, a um discurso único, hegemônico, totalitário. Os próprios
pacientes não poderão mais escolher o profissional de saúde para seu tratamento
ou psicoterapia, pois o sistema de indicação dos profissionais estará a cargo
do psiquiatra, através de sua avaliação, na qual ele indicará a necessidade ou
não de psicoterapia, o tipo ou linha que será necessária para cada caso, o
tempo de consulta, o número de sessões, e indicará finalmente um psicoterapeuta
previamente validado em uma lista por ele estabelecida.
Após o relatório
Cléry-Melin ficar pronto, os deputados franceses se apressaram para fazer o
relatório virar lei, através de uma emenda conhecida como “emenda Accoyer”:
No 8 de outubro de 2003, a Assembléia Nacional,
esquerda e direita indistintas, votou em unanimidade a emenda 336, terceira
modificação do Código da saúde pública, dita “emenda Accoyer”, e isto sem a
abertura prévia de um debate público, sem audições dos profissionais
concernidos e sem ter sido ela mesma informada de dados essenciais, dentre os quais
a função que o Ministro encarregado da Saúde intencionava dar ao “plano de
ações” Cléry-Melin[20].
O “relatório Cléry-Melin” e a “emenda Accoyer” suscitam uma revolta
generalizada entre os trabalhadores da saúde mental, que os consideram como uma
“patologia da democracia”[21].
É proposto pela ECF um evento de repúdio, o “I Fórum dos Psis”, realizado em Paris em 15 de
novembro de 2003, aberto, com a participação de psicanalistas, psicólogos, profissionais da saúde mental e
diversos intelectuais franceses, como lingüistas, filósofos, sociólogos, que se
manifestam contrariamente ao relatório e à emenda 336. É redigido um manifesto
de repúdio, “O manifesto psi”[22],
que é enviado aos deputados e senadores franceses assim como a todos os meios
de comunicação, para expor a tentativa de golpe à democracia e à autonomia das
ciências da saúde, executado na surdina; para que pudessem compor uma comissão
mista de trabalhadores da saúde mental a ser ouvida pelos senadores – e não
somente de psiquiatras; e para propor a suspensão imediata da votação da emenda
336:
Nós demandamos
respeitosamente aos Senadores de proceder à audiência dos representantes
qualificados de nossas profissões e em seguida de suspender a votação da emenda
Accoyer, na espera da proposta do “Fórum dos Psis” em atual elaboração. Nós
rogamos ao Ministro da Saúde, Sr. Mattei, ao Ministro da Cultura, Sr. Aillagon
e ao Secretário do Estado dos profissionais liberais, Sr. Dutreil, de receber a
delegação do “Fórum dos Psis”, que lhes apresentará o que está em jogo na
negociação presente e as razões desta emoção popular e da mídia: questões de
saúde pública, questões de civilização, questões profissionais.[23]
O relatório do INSERM (Instituto
Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica)
O relatório Cléry-Melin indicava as linha gerais, a
forma, e esperava o conteúdo que viria do relatório do INSERM, intitulado:
“Psicoterapia: três linhas avaliadas” – uma expertise coletiva do INSERM”.[24]
Ele analisa a “eficácia” de diferentes psicoterapias aplicadas ao tratamento
dos transtornos mentais, para servir de subsídio para o plano de ações
Cléry-Melin. Este diz que os médicos é que devem organizar a rede de saúde
mental, mas para isso eles deverão se basear em um estudo científico que dirá a
eficácia de cada linha terapêutica para cada tipo de problema. Os médicos então
seguirão esse manual.
Parece simples e bem intencionado, à primeira vista. Mas
se o primeiro golpe tinha vindo da medicina, o segundo viria dos terapeutas
cognitivo-comportamentais.
Este relatório foi apresentado em 26 de fevereiro de
2004. Foi realizado com base em “uma pesquisa na literatura internacional”
sobre a avaliação de diferentes psicoterapias aplicadas ao tratamento dos
transtornos mentais. Para realizá-lo, duas associações francesas se associaram à
DGS (Direção Geral da Saúde): a UNAFAM (União Nacional dos Amigos e Famílias
dos Doentes Psíquicos) e a FNAP-psy (Federação Nacional das Associações de
ex-Pacientes da Psiquiatria).
Eles levaram em conta três linhas psicoterápicas: a linha
psicodinâmica (ou psicanalítica, segundo o relatório), a linha
cognitivo-comportamental, e a linha familiar e de casal. O relatório se coloca
duas questões, e procura respondê-las: como medir a eficácia da terapêutica de
uma ou outra linha? E como provar esta eficácia?
Eis algumas conclusões do relatório:
Em psicoterapia, as medidas
de eficácia de uma terapia se baseiam freqüentemente sobre características
subjetivas. Mas mesmo para elas, podemos recorrer a um sistema numérico
permitindo quantificar uma melhora clínica (a partir de questionários). É
verdade que a validade dessas medidas é mais fácil a demonstrar se estas foram
adaptadas à terapia estudada.
O critério de melhoria
mais freqüentemente utilizado na literatura analisada concerne à melhoria dos
sintomas no contexto de um problema. De maneira menos freqüente, os estudos
avaliaram a melhoria da qualidade de vida e de adaptação social do paciente.
No contexto da avaliação das
terapêuticas, se coloca também a questão da singularidade do par
paciente-terapeuta. A reprodutibilidade dos estudos é assim enfraquecida, se
comparadas aos estudos da física, da química ou da biologia. Contudo, o avanço
dos conhecimentos em terapêutica prova que uma avaliação científica é possível.
A avaliação da eficácia de uma terapêutica se apóia sobre resultados de estudos
randomizados controlados.
Quanto aos critérios de avaliação utilizados:
1) sintomas claramente definidos
2) medidas válidas
3) avaliador independente e cego
4) avaliador treinado e confiável
5) tratamento apresentado em um manual
6) randomização
7) fidelidade ao tratamento
8) não haver outro tratamento concomitante
9) medidas e entrevistas de avaliação diversificadas
10) duração do tratamento
Quanto aos resultados da eficácia, divididos por patologia:
1) esquizofrenia: eficácia por até 2 anos das
terapias familiares, eficácia moderada das terapias cognitivas, e nenhuma
eficácia das terapias psicodinâmicas. Uma comparação direta entre as diferentes
linhas permite estabelecer uma eficácia superior da linha psico-educativa e das
terapias cognitivo-comportamentais, associadas à terapia medicamentosa.
2) Transtorno bipolar: os dados disponíveis mostram
maior eficácia da linha psico-educativa, associada à terapia medicamentosa.
3) Transtornos depressivos: as terapias cognitivo-comportamentais
são mais eficazes, associadas à terapia medicamentosa.
4) Transtornos ansiosos: as terapias
cognitivo-comportamentais são mais eficazes, associadas ou não à terapia
medicamentosa.
5) Transtornos alimentares: os resultados dos estudos
comparativos não permitem concluir sobre a superioridade de uma linha sobre a
outra, mas na bulimia as terapias cognitivo-comportamentais mostram sua
eficácia, associadas ou não à terapia medicamentosa, e na anorexia as terapias
familiares provaram sua eficácia por até 5 anos, mas somente em pacientes em
que a doença começou antes dos 19 anos, e que tinham a doença por um período
inferior a 3 anos. A linha cognitivo-comportamental não mostrou eficácia, mas
uma presunção de eficácia pode ser evocada pela prevenção de recaídas.
6) Transtornos da personalidade: as terapias
psicodinâmicas e as terapias cognitivo-comportamentais demonstraram sua
eficácia.
7) Álcool-dependência: as terapias familiares e as
terapias cognitivo-comportamentais ainda não confirmaram sua eficácia, e as
psicodinâmicas não foram estudadas nesta indicação.
8) Autismo: programas educativos e comportamentais mostram sua eficácia,
na melhoria do quociente intelectual, na performance escolar e nas condutas
sociais.
9) Transtornos ansiosos da infância: maior eficácia
das terapias cognitivo-comportamentais.
10) Transtornos depressivos da infância: presunção
de eficácia das terapias cognitivo-comportamentais.
11) Hiperatividade: a terapia familiar é a mais
eficaz, quando combinada à terapia medicamentosa e a uma formação
comportamental dos pais.
12) Transtornos de conduta: a terapia familiar é a
mais eficaz.
As conclusões que advém da análise e da síntese dos
estudos de avaliação repertoriados na literatura constituem um esclarecimento
útil aos profissionais e usuários. Se a relação singular entre uma pessoa em
sofrimento e um terapeuta persiste como um elemento determinante na escolha e
na condução de uma terapia, a informação dos usuários e a formação dos
terapeutas devem ser feitas com relação às provas científicas disponíveis, para
melhorar a oferta de cuidado e o trabalho em rede dos diferentes atores da
saúde.
Se o relatório Cléry-Melin defendia a necessidade de que
os médicos escolhessem a melhor linha terapêutica para o paciente, dependendo
de seu problema, o relatório que o acompanha – do INSERM – determina qual é a
linha que deve ser “escolhida”. Como vemos nas conclusões do relatório, o
objetivo é legitimar uma posição estabelecida previamente pelas TCC´s e contra
a psicanálise, e que não leva em conta a imensa literatura psicanalítica que
versa sobre os resultados e efeitos do trabalho clínico psicanalítico.
Se aprovados, os médicos terão o poder para prescrever os
tratamentos em áreas que eles não possuem treinamento e competência, como
psicologia, enfermagem, nutrição, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia
ocupacional. Esta submissão à medicina
acarretaria a perda da autonomia científica dessas outras áreas do saber, de ciências que construíram uma
visão de homem, de mundo, de práxis, muitas vezes de maneira distinta e até
contrária à medicina. A conseqüência desta submissão, a médio e longo prazo,
será o desaparecimento destas diferentes disciplinas.
As TCC´s definiram
os parâmetros de um acordo tácito, a partir de uma pesquisa enviezada realizada
a partir de suas próprias categorias de avaliação, instrumentos de medição e
indicadores próprios. A medida afeta também os critérios de formação/extensão
universitária, para que todos os cursos – inclusive os de psicanálise – possam
obedecer a um sistema único de avaliação através da validação de suas Escolas
pela psiquiatria, a fim de regulamentar (de maneira padronizada) a concessão
das licenças para a prática clínica.
Para a
psicanálise, os parâmetros da medicina ou das TCC´s não podem ser aplicados ou
exigidos dentro da ética da psicanálise, que responde à ética do sujeito do
inconsciente. Retomemos uma observação feita no relatório: “É verdade
que a validade dessas medidas é mais fácil a demonstrar se estas foram
adaptadas à terapia estudada”. Ora, os critérios de avaliação e questionários
de eficacidade por eles utilizados não estão adaptados à psicanálise. Isto quer
dizer que eles não têm validade, não que se tornam mais fáceis ou difíceis de
demonstração. Por se tratarem de
práticas distintas, carregam historicamente parâmetros diferentes – e muitas
vezes opostos – do que poderia ser chamado de cura, de eficácia, de sofrimento,
de inconsciente, de tempo necessário para o tratamento, de felicidade, e de critérios
para a formação de seus terapeutas e analistas.
“Você
quer mesmo ser avaliado?”
Duas semanas após
o “I Fórum dos Psis”, no qual foi redigido “O manifesto psi” em defesa à
democracia e à liberdade de existência, J.-A. Miller convidou o lingüista
Jean-Claude Milner para um debate público ocorrido no âmbito de seu Curso de
Orientação Lacaniana para discutir a questão da avaliação. O interessante deste
debate é que em nenhum momento Miller ou Milner colocam em questão o fato de o
projeto avaliacionista ser dirigido pela classe médica ou pelos cognitivistas.
Antes, Miller e Milner analisam a questão da “avaliação” propriamente dita,
pretendida pelo Estado, sejam quais forem seus mandatários. Em dois encontros
ocorridos em Paris, em 3 e 10 de dezembro de 2003, eles realizam um debate
aberto ao público em torno da questão da avaliação[25].
O primeiro ponto
levantado por Milner é que, segundo Accoyer, a questão da saúde mental diria
respeito à saúde pública. Como a saúde pública diz respeito ao Estado, a saúde
mental diria respeito ao Estado. Aqui haveria uma oscilação entre os termos
público e privado, pois “o público como oposição ao privado” passaria ao
“público como assunção do privado”[26]. Em outras
palavras, a saúde de cada um – algo da esfera do privado – seria uma atribuição
do público, indo da saúde até a saúde mental, encontrando “o que há de mais
privado no privado”. Ele continua:
Falar,
então, de saúde mental como uma extensão da saúde pública é, na verdade,
estender a esfera do público de tal modo que a esfera do privado fique
inteiramente absorvida nela.[27]
E porque o Estado
parte para “salvar” a saúde mental? Dizem os experts que haveria uma
queixa na sociedade (ainda que não seja demonstrada em nenhum dos documentos
apresentados, de onde parte essa queixa e por quem): “Seus psis não têm bons
diplomas, são charlatões!”[28]. E qual seria
a solução proposta? A regulamentação da saúde mental pelo Estado, pela esfera
pública. Como explica Milner[29], cria-se o
binômio “problema-solução”: cria-se um problema para que seja criada uma
solução, a avaliação.
Contudo, o
processo de avaliação não é imposto pelos avaliadores. Diz Miller que ele é
construído de maneira com que seja sentido não como algo que se impõe, mas como
“algo que se demanda”[30]. Nos
documentos da avaliação, aquele a ser avaliado é chamado solicitante.
Diz Miller:
A
sedução do discurso da avaliação deve-se ao fato de que ele reproduz, para cada
um, esse momento natal onde a marcação do homem pelo significante se realiza,
onde o sujeito natural encontra-se barrado pelo significante, e em seguida,
dotado do significante que o representa, S1. (...) A avaliação destaca a
marcação primordial significante do ser humano, que é a matriz da socialização[31].
Assim, a
avaliação traz esse aspecto que interessa à psicanálise: a demanda de marcação,
de reconhecimento, de amor, demanda de inclusão a um grupo de iguais:
Uma
vez que você será credenciado-avaliado, você poderá avaliar outros. (...) São
os senhores gente-como-a-gente avaliados anteriormente, e que estão
contentíssimos em encenar, por sua vez, a comédia da avaliação.[32]
Um sujeito
demanda reconhecimento, e outro sujeito tem o poder ou não de reconhecê-lo:
esta é, finalmente, a face de poder que se desvela na avaliação/reconhecimento,
como explica Miller:
Materialmente,
o que se passa na avaliação não tem estritamente nenhuma importância. As
montanhas de papéis que eles fazem preencher nos setores que ocupam, que
monopolizam, não servem para nada, nada mesmo, somente para instalar, afirmar,
exibir, celebrar um poder, o da administração credenciadora, classe
inteiramente parasita.[33]
A questão do
reconhecimento pelo Outro é um tema caro à psicanálise, que responde com
estratégias rigorosas com relação à formação, outro problema trazido pelos
relatórios expostos. A formação em psicanálise não diz de um diploma, não diz
de um estágio clínico, não diz de um reconhecimento do Outro, não diz de uma
avaliação a ser realizada segundo critérios objetivamente estabelecidos, e não
ensina um tratamento por um manual (critério nº 5 do relatório do INSERM). Como
ceder aos critérios objetivos da medicina e das TCC´s sem observar que o preço
a ser pago é a própria extinção da psicanálise? Porque o estudo continuado dos
textos fundamentais, as supervisões clínicas, e principalmente a própria
análise, revelam um jogo intrincado quanto às condições para se tornar analista
que são, finalmente, muito mais exigentes que aquelas propostas pelos
avaliadores do Estado:
O que se deve qualificar de
formação é tão somente a soma ou a série disparate de um rosário de efeitos
de formação: leituras, trabalhos, seminário, encontros, trocas,
experiências, práticas, que só têm seu valor por terem como centro ou
como fundo a experiência pessoal do tratamento puro.[34]
“Tornar-se psicanalista por prosseguir a sua análise”. Esse outro mundo [da análise pessoal] é também
aquele em que o analista não se interessa pelo que se é, mas sim pelo que se
diz; não por nosso saber, mas pelo furo no saber, o real, em que se aninha
nossa falta.[35]
Como ceder a uma
padronização, qualquer que seja ela, vinda de qualquer lugar ou episteme,
sem contudo temer o próprio desaparecimento da psicanálise, para a qual a
comparação e a padronização são diametralmente opostas à ética do sujeito?
Na psicanálise não
há comparação, e sim uma ética do sujeito único. Acolhe-se a cada sujeito como
se fosse a primeira vez, como incomparável. E como diz Miller, na operação de
avaliação o que o sujeito ganha ou perde na operação é que ele “aceita ser
comparado, torna-se comparável, tem acesso ao estado estatístico.”[36]
Então, a questão
de recusar a avaliação é anterior até de se defender dos ataques dos médicos ou
dos cognitivistas. O que Miller e Milner tentam mostrar é que a premissa está
equivocada, não somente o modo pelo qual se tenta forçar uma avaliação, mas a
avaliação nela mesma. Em psicanálise, se quisermos formar bons profissionais da
prática clínica que tratam “a demanda proveniente da voz de quem sofre
de seu corpo ou de seu pensamento”[37], não são suficientes uma prática de manual ou
recomendações da boa prática, por mais elaborados que sejam seus critérios.
Pois que a questão da eficácia é proposta em outros termos, a felicidade é
interpretada, a satisfação é reduzida ao que dela responde o objeto a, e
o reconhecimento pertence a uma esfera imaginária que tenta apagar as
diferenças e as singularidades de um trabalho que deve levar o praticante, ele
mesmo, a atravessar sua própria análise para poder se dizer analista.
Aí estaria o
risco maior: ao tentarmos responder a partir da lógica imposta pelo discurso
social, pelo Estado, pelo Outro, saímos inevitavelmente do discurso analítico e
entramos no discurso do mestre. Veremos como esse risco ficou presente com a
criação e a multiplicação do CPCT, que ocorre no seio da regulamentação das
práticas clínicas na França.
A
criação do CPCT
Sob essa
atmosfera avaliacionista, os psicanalistas saíram de seus consultórios e foram
às ruas para defender os princípios e a particularidade da psicanálise,
participando de reuniões com representantes de outras práticas “psi”,
publicando artigos em jornais de grande circulação, reunindo-se com os
deputados. A questão era sair às ruas, fazer-se conhecer, falar uma linguagem
que o Outro social pudesse entender, para defender e sustentar tanto a
pertinência quanto a particularidade da psicanálise.
Este movimento
culminou, em 2003, na criação de uma instituição em Paris para o tratamento do
sofrimento mental orientada pela psicanálise. Nascia o CPCT, “Centro
Psicanalítico de Consulta e Tratamento”:
O CPCT,
criado em 2003, foi um pulmão para a Escola no contexto da regulamentação
da profissão “psi” e da
demanda de Utilidade Pública, pois ali ainda era possível falar da psicanálise,
da nossa, mesmo sendo a psicanálise aplicada.[38]
O CPCT começou
como uma instituição modesta, uma unidade localizada em Paris na Rue du
Chabrol, e depois se expandiu em outras unidades, outras cidades da França
(Lyon, Marselha, Bordeaux), e outros países, como Espanha, Argentina, Itália,
Bélgica e Brasil (notadamente na Bahia e em Minas Gerais).
O CPCT tinha como
objetivos a gratuidade, um tempo limitado de tratamento (16 sessões), e a
possibilidade de se oferecer um tratamento orientado pela psicanálise a pessoas
que não procurariam um analista em um consultório, visando atender
principalmente os casos de psicoses ordinárias e os sintomas contemporâneos,
cujo laço ao Outro dificultaria o estabelecimento da transferência. Ou seja, o
acesso das pessoas à psicanálise seria facilitado com a criação do CPCT, para
que ela perdesse o estigma de inacessível, de compreensão difícil, de prática
elitista:
Se queríamos que pudessem se dirigir a nós aqueles
que são ou se sentem excluídos, ou os que recusam o laço social (são sempre os
mesmos), ou ainda os que sofrem de sua dependência ao laço social (e ainda, são
freqüentemente os mesmos), era necessário que eles pudessem nos encontrar
diretamente, sem nada prévio, sem que a instituição e seu peso se
interpusessem. Eles telefonam, eles têm um horário, eles encontram um analista.
Sem filtro. E, eles seguem, se querem. Por um tempo limitado, se querem.
Instituição tão leve quanto possível.[39]
Mesmo que a
criação do CPCT respondesse ao contexto avaliacionista, como uma proposta
política de inserção da psicanálise na cidade, ele era também o resultado de
uma orientação clínica clara, sendo destinado a sujeitos que apresentam “um ponto singular de desenodamento, de
fragilização do sintoma, ruptura de laço, desligamento”[40]. Como diz
Alain Merlet, no CPCT “visava-se, na maioria das vezes, encontrar um
ponto de basta para sujeitos que, em sua maioria, eram portadores de uma
psicose ordinária”[41]. Para estes, psicanálise aplicada à
terapêutica, não para tudo nem para todos:
O CPCT
continua sendo um lugar particular por ter se tornado um endereço para uma
categoria de sujeitos que, na maioria das vezes, não se dirigem a um analista,
sendo quase sempre afetados pelas psicoses ordinárias.[42]
A desmontagem da clínica estrutural, operada por
Lacan com o Seminário sobre Joyce, serviu de modelo ao dar uma caução
epistemológica a essa pesquisa [do CPCT]. Ela obtinha sua justificação a partir
dos inúmeros casos de “psicose ordinária” encontrados nesse lugar.[43]
As orientações para o tratamento, “precisando a questão da queixa em
função da estrutura”, eram a “mínima decifração do inconsciente transferencial”
e a “obtenção de um final satisfatório”[44]. Em outras
palavras, um efeito terapêutico. Assim, o efeito terapêutico estava
condicionado à questão da estrutura, pelo menos em sua idéia inicial, justificando-se
a partir da psicanálise:
Para o
que é o aspecto clínico deste debate, me parece evidente que os CPCT´s foram
criados no momento em que o conceito de psicose ordinária se introduzia em
nossa clínica. Explorar essa noção foi, me parece, um dos motores de nossa
formação nesses últimos anos. E o avanço dessa pesquisa no seio do CPCT foi
muito importante.[45]
Tudo se passava evocando,
por certos traços, algo da psicanálise pura, mesmo que daquela fosse apenas o
semblante. O fora do sentido (hors-sens) de tais tratamentos fazia com que aí
houvesse da psicanálise e não da psicoterapia.[46]
Ao fim de 2008,
Miller constata que a experiência CPCT estaria se desgarrando de seus objetivos
iniciais, afastando-se da psicanálise pura e cedendo cada vez mais às exigências
do Outro social. Tem início a publicação das “Entrevistas do Momento Atual”,
como uma forma de chamar a atenção dos analistas à deriva na qual estaria
mergulhando o CPCT e a psicanálise aplicada.
Miller constata
que os CPCT´s teriam se tornado uma “bomba de sugar libido”[47]: só se falava
em CPCT, todos queriam trabalhar no CPCT, a maioria dos grupos de estudo que se
formavam dedicavam-se à experiência do CPCT. Os que faziam parte da experiência
dedicavam cada vez mais horas ao trabalho clínico, à caça de subvenções, às
reuniões clínicas e administrativas que se multiplicavam, no esforço de que a
experiência tivesse “êxito”. Diz Miller:
Percebi que havia uma CPCT-mania
no Campo Freudiano. Era como se todo o Campo Freudiano fosse se reconfigurar a partir
do conceito, da ideologia e da prática do CPCT.[48]
Os analistas em formação passaram
a dedicar cada vez mais tempo para as atividades clínicas e burocráticas
existentes no CPCT e iam cada vez menos às Seções Clínicas, estudavam menos os
textos fundamentais[49],
seduzidos por uma via de acesso mais fácil e mais rápida para se tornarem
analistas, sem terem que passar anos de estudo nas Seções Clínicas, em suas
supervisões, e mesmo em suas próprias análises, curto-circuitando a própria
questão da formação.
A forma pela qual
um praticante pode autorizar-se analista, que na Escola tem o passe como norte,
é colocada em questão pelo sucesso demasiado da experiência do CPCT, caminho
mais fácil e mais rápido para os praticantes poderem se nomear – e serem nomeados
por seus pares, pelos pacientes e pela própria instituição – como analistas:
Eu os chamo “analistas” ou
“analistas em formação”. Não quero que se faça uma clivagem interna[51].
Philippe de
Georges vê aí um dos problemas que se instauraram entre o CPCT e a Escola, no
que diz respeito à formação:
A
meu ver, essa fórmula – “só há psicanalistas” – equivale a uma nomeação (...).
Ali onde a Escola usa da mais extrema prudência remetendo, em seu anuário,
unicamente aos analistas praticantes a autorização para um termo que a Escola
apenas transcreve, existe o risco de que o CPCT se torne o lugar em que se
nomeiem psicanalistas.[52]
Mesmo que a experiência clínica
institucional testemunhe efeitos de
formação inegáveis, como esclarece Serge Cottet[53], a formação do
psicanalista não se reduz à prática institucional, sendo “impossível formar um
psicanalista a partir dos CPCT´s, ainda que esses lugares se encontrem ao longo
do percurso da formação de psicanalistas”[54]:
Não
podemos fazer do CPCT um lugar de autorização, e no que diz respeito à
formação, é preciso deixar claro que, no âmbito da Escola, a
experiência com a psicanálise aplicada não substitui nem se sobrepõe àquela que
resulta da psicanálise pura, ou seja, da análise pessoal e do passe, o
que não quer dizer que, tendo nos assegurado disso, não possamos
reconhecer a contribuição que a prática do CPCT pode ter na formação
clínica daqueles que dela participam.[55]
Assim, com
relação à formação, a libido dos praticantes estaria sendo sugada pela
experiência institucional e sendo desviada da Escola. Com relação ao
funcionamento institucional há a reprodução de um certo modo de funcionamento que passa a ser “seguido”,
“padronizado”, entre as unidades dos CPCT´s. Estas se multiplicam por uma
exigência do Outro social e pelo desejo/necessidade de reconhecimento de
utilidade pública da psicanálise, em face da política de avaliação perpetrada
pelo Estado.
No lugar de uma
“experiência da psicanálise na cidade”, um pequeno CPCT destinado ao tratamento
das psicoses ordinárias e sintomas contemporâneos de desenlace social, surge um
grande CPCT, e o que deveria ser uma “experiência” se nutriu de seu próprio “savoir-faire”,
produzindo uma certa padronização da prática clínica pela exigência de
“funcionar”, como apontam Esthela Solano e Irène Krassilchik:
Essa forma de funcionamento produziu um certo
nivelamento da experiência, à nossa revelia. Se digo “nivelamento”, me refiro a
alguma coisa que corre por trás das exigências impostas pelo êxito, que vai nos
fazer, em lugares e graus diferentes, girar uma manivela.[56]
Que tudo tenha entrado em seguida em ordem,
como deve ser, deixou em mim traços de recusa de um discurso que seria o do
mestre.[57]
Sucesso, eficácia: ça marche?
Neste momento de desenvolvimento
da psicanálise aplicada e de uma política de incentivo da Escola para incluir o
discurso psicanalítico no campo social, a psicanálise corre o risco de se ver
dominada por este social e por sua demanda. Ao adaptar sua língua à língua do
Outro, para se fazer entender, a psicanálise perde a marca que a diferencia deste mestre voraz. O problema
em nos deixarmos “obsidiar pela preocupação de nos adaptarmos ao mundo
contemporâneo e obter o reconhecimento do Outro social”[58]
reside no fato de que esse desejo de reconhecimento pelo Outro não se faz sem
riscos:
Não é inútil lembrar de que a IPA engajou-se muito cedo
nas vias que lhe foram abertas pelo Outro social (...) A máquina triunfou
sobre a psicanálise ortodoxa adormecendo-a sob as honras e o reconhecimento, os
títulos e o dinheiro. À força de respeitabilidade, os mestres de ontem
depuseram as armas ao cederem quanto aos conceitos, aos princípios, à doutrina.
Atualmente, eles sequer existem.[59]
Não é de se admirar que a pressão do Outro social,
do Outro da demanda, tenha se tornado cada vez mais insistente. Na verdade,
esse Outro tomou as rédeas. [60]
A demanda social passa a orientar os rumos da instituição
e as indicações de entrada, que começam a ser determinadas pelos inúmeros S1
que servem para nomear os diversos sintomas contemporâneos: bulimia, SDF,
precariedade, depressão. E como salienta Miller, a multiplicação dos CPCT´s
responde a essa lógica monossintomática imposta pelo Outro social:
O
monossintomático nunca é mais do que o reflexo de um significante-mestre do
discurso social.[61]
Na proliferação de “unidades
monossintomáticas”, em que os analistas se viram compelidos a responder à
demanda do Outro social por curas rápidas, e na busca às subvenções do Estado
para o funcionamento destes diversos Centros de Tratamento, os CPCT's se transformaram em uma resposta à questão da avaliação imposta pelo Outro, usando a língua
que este Outro entendia (ou exigia): efeitos terapêuticos rápidos, em todo e
qualquer caso. Nesse sentido, lembramos do risco evocado por Lacan de
“alistamento do praticante no social”, ou seja, como aquele que se crê apto a
responder ao mal estar da civilização. Como salienta Serge Cottet, o analista
deve estar sempre preparado para “recusar
as ofertas sociais que o fariam esquecer de que sua responsabilidade primeira é
para com a linguagem” [62].
O CPCT, porém, obtém
o reconhecimento do Outro social pela via da eficácia e do sucesso. Se
os efeitos terapêuticos seriam uma conseqüência indireta em uma análise, eles
passam agora a ser almejados, não só
pelos contornos políticos que tomam de assalto a França, mas também por uma
certa leitura do último ensino de Lacan quanto ao sinthoma, como relata
Yasmine Grasser:
O
encontro e a familiarização com a clínica dos nós e a noção de sinthoma para
nossa comunidade, talvez tenham favorecido uma espécie de fábrica coletiva de
soluções e invenções rápidas para os pacientes do CPCT.[63]
Esta situação aumenta o desconforto da comunidade
analítica pelo rumo que a psicanálise estaria tomando, com um inchaço da
psicanálise aplicada que recobria o discurso sobre a psicanálise pura e sobre o
passe. Os efeitos terapêuticos, a satisfação do paciente, a avaliação do
Estado, a eficácia, sem o “a mais” de saber que diferencia a psicanálise das
outras terapêuticas, a cura passa agora a ser avaliada com as ferramentas dadas
pelo Mestre, esse que a formula em termos de retirada dos sintomas, felicidade,
satisfação.
Um “savoir-faire” clínico passa a ser disseminado,
e o “tratamento CPCT” pode ser indicado
a cada vez para mais pessoas e para os mais diferentes sintomas. Os efeitos
terapêuticos tornam-se o objetivo final de “curas” cada vez mais rápidas,
denunciando assim um “excesso de suas pretensões terapêuticas”[64]:
Centrado no benefício
terapêutico a curto prazo, o desejo do analista no CPCT se tornou a vontade de
obter um efeito terapêutico. A ênfase sendo posta na melhora e no alívio do
sofrimento, o analista “aplicava-se” em impedir a abertura do inconsciente e o desenvolvimento da
transferência.[65]
Entendemos então que a controvérsia não está no projeto inicial e seus
efeitos terapêuticos vinculados originalmente a uma clínica da desinserção, mas
quando os efeitos terapêuticos são almejados de maneira generalizada,
denunciando um excesso que visa a tudo e a todos indiscriminadamente:
Um “tratamento de psicanálise” sem transferência, sem fantasma, sem
circulação de dinheiro, todo orientado em direção ao sintoma que se trataria de
tornar psicanalítico e de suprimir, em um tempo determinado desde o início,
estava previsto a sujeitos geralmente fora do discurso, muito desarrimados ou
ao menos em precariedade simbólica.[66]
Quando a questão da “eficácia” e do “sucesso” respondem segundo
a linguagem do Outro social, do mestre, na imposição do “ça marche”, é o
discurso do mestre que comanda, ao custo
do sujeito e do desejo:
Me parece agora evidente que uma lógica do sucesso pesa
fortemente sobre nós. Por um lado, esta é correlata à vontade política inicial
de demonstrar, em um contexto de ataques virulentos e repetidos, a utilidade da
psicanálise (aplicada) no campo social. Por outro lado, há poucas chances, hoje
em dia, de sermos confiáveis – e, portanto, efetivamente solicitados e a
fortiori subvencionados – preconizando o valor incontornável da falha em
psicanálise. (...) Presos, portanto, no “é preciso que isso funcione” do
discurso do mestre que você pinçou em “Vers
PIPOL 4”.[67]
O “isso funciona”, para a psicanálise, é outro. Ele
envolve uma falha fundamental, estrutural, e diz do inconsciente, no sentido do
sem sentido, ou seja, do gozo, inapreensível pela engrenagem asséptica das
estruturas anônimas, sem sujeitos nem desejo. Como responder ao “funciona” das
avaliações, se falamos de outro tipo de “funciona” em psicanálise?
O mais “útil” do ponto de vista da demanda social não é o
mais interessante e útil na perspectiva própria à psicanálise. O mais útil para
a psicanálise é o que parece ser o mais inútil para a demanda social nas “consultas e
tratamentos”.[68]
A resposta analítica é outra: não
visa à extinção do buraco, pois o buraco é estrutural. Como explica Miller:
Sem dúvida, a psicanálise está em déficit a respeito
dessas terapias porque não é nosso estilo, não somos vendedores de felicidade
nem de confiança em si mesmo. Pensamos o contrário, uma análise necessita que o
sujeito perca sua confiança em si mesmo, e que não a recupere demasiado rápido,
de tal maneira que possa ficar aberto o buraco para que siga trabalhando. E, se
há efeitos terapêuticos, são indiretos.[69]
Por isso, oferecer somente os
efeitos terapêuticos a sujeitos que estruturalmente teriam uma indicação para
atravessar uma análise tradicional é ir contra a ética da psicanálise, pelo
menos desta que Lacan frisou em Freud, negando o buraco inerente ao ser humano
falante. Os efeitos terapêuticos em psicanálise, como vimos anteriormente, têm
sua pertinência na clínica da neurose como um momento em que a terapêutica está
em evidência, mas não se esgota neles, não os busca como objetivo último e
único do tratamento. A resposta da psicanálise à demanda de felicidade é fazer
o sujeito falar, e manter aberta deste modo a hiância estrutural do mal estar
do ser falante:
Para
Freud, o valor de uma interpretação não se mede à sua exatidão, ela não se mede
pela concordância do analisante, ela não se mede tampouco ao seu efeito
terapêutico. Ela se mede pelas suas consequências, e mais especialmente pelo
fato de que ela produz no paciente a produção de material novo.[70]
Assim, como responder à questão
da eficácia pretendida pelo Estado, “satisfação garantida ou seu dinheiro de
volta”, a partir da psicanálise? Qual deve ser a promessa analítica à demanda
de felicidade? Desde Freud, a resposta é a mesma: a demanda formulada é sempre
demanda de Outra coisa. Não é por acaso que Lacan situa um capítulo intitulado
“A demanda de felicidade e a promessa analítica” em seu Seminário sobre a
Ética, nos relembrando da advertência freudiana.
É esta ética da psicanálise,
finalmente, que nos obriga a respondermos (e, na maioria do tempo, a não
respondermos) de outro lugar. Como diz Lacan,
É na medida em que a demanda está para além e para
aquém de si mesma; que ao se articular com o significante, ela demanda sempre
outra coisa; que em toda satisfação da necessidade ela exige outra coisa; que a
satisfação formulada se estende e se enquadra nessa hiância, que o desejo se
forma como o que suporta essa metonímia, ou seja, o que quer dizer a demanda
para além do que ela formula[71].
[1]
“Entretiens d´Actualité”. Disponíveis em www.forumpsy.org
[2]
Centro Psicanalítico de Consulta e Tratamento.
[3]
Freud, S. (1932). Conferência XXXIV: Explicações, aplicações e orientações. Obras
completas. (vol. XXII. Rio de Janeiro: Imago, p.154.
[4]
Lacan, J. (1964). Ato de Fundação. In Outros Escritos. Rio de Janeiro:
Zahar, 2003, p. 235-247.
[5]
Lacan, J. (1969). Intervenção no
Congresso de Strasburgo da Escola Freudiana de Paris sobre “Psicanálise e
Psicopterapia”, de 12/10/1968. Lettres
de L’école Freudienne, 1969, n° 6, p. 42-48.
[6]
ACF (2003). Pertinences de
la psychanalyse apliquée. Travaux de l´École de la Cause Freudienne réunis par
l´Association du Champ Freudien. Paris: Éditions du Seuil, p.8.
[7]
Sonia
Chiriaco, Entrevistas do Momento Atual, nº 21.
[8]
Mannoni, M. (1977). Educação impossível. Rio de Janeiro: Zahar, p.16.
[9]
Dominique Holvoet, Entrevistas do Momento Atual, nº 26.
[10] in Baio, V. (1992). Orientation
psychanalytique dans une institution pour enfants dits psychotiques. Les
Feuillets du Courtil, n° 4, avril 1992, Leers-Nord.
[11]
Dominique Holvoet, Entrevistas do Momento Atual, nº 26.
[12] IRMA (1996). La psychose
ordinaire: la convention d’Antibes. Paris: Agalma-Le Seuil, 2005; IRMA (1997).
La conversation d’Arcachon. Paris: Agalma-Le Seuil; IRMA (1998). Le
conciliabule d’Angers. Paris: Agalma-Le Seuil, 2005.
[13]
Francisco Hugo-Freda, Entrevistas do Momento Atual, nº 16.
[15]
ACF (2003). Pertinences de
la psychanalyse apliquée, opus cit., p.8.
[16] “Plan d’Actions pour le Developpement de la Psychiatrie et la
Promotion de la Santé Mentale”. Disponível em http://www.fehap.fr/sanitaire/psy/RapportCM_Psy.pdf
[17]
idem.
[18]
Ibidem.
[19]
Conferir mais à frente o laudo do INSERM.
[20]
“O manifesto psi”, documento redigido no “I Fórum dos Psis”, realizado em Paris
em 15/11/2003. Disponível em www.forumpsy.org
[21]
Idem.
[22]
Ibidem.
[23]
Ibidem.
[24] “Psychothérapie, trois approches
évaluées - Une Expertise Collective de l´INSERM”. Disponível em www.forumpsy.org
[25] Miller, J.-A. & Milner, J.-C.
(2003). Você quer mesmo ser avaliado? Entrevistas sobre uma máquina de
impostura. Barueri, SP: Manole, 2006.
[26]
Idem, p.31.
[27]
ibidem, p.31.
[28]
ibidem, p.17.
[29]
ibidem, p.3.
[30]
ibidem, p.23.
[31]
ibidem, p.26.
[32]
ibidem, p.23.
[33]
ibidem, p.24.
[34]
Philippe De Georges, Entrevistas do Momento Atual, nº 15.
[35]
Irène Krassilchik, Entrevistas do Momento Atual, nº 10.
[36]
Miller, J.-A. & Milner, J.-C. (2003). Você quer mesmo ser avaliado? Opus cit., p.25.
[37]
“O manifesto psi”, opus cit.
[38]
Yasmine Grasser, Entrevistas do Momento Atual, nº 4.
[39]
Gilles Chatenay, Entrevistas do Momento Atual, nº 7.
[40]
Fabien Grasser, Entrevistas do Momento Atual, nº 8.
[41]
Alain Merlet, Entrevistas do Momento Atual, nº 7.
[42]
Fabien
Grasser, Entrevistas do Momento Atual, nº 28.
[43]
Serge Cottet, Entrevistas do
Momento Atual, nº 21.
[44]
Alain Merlet, Entrevistas do Momento Atual, nº 7.
[45]
Antoni Vicens, Entrevistas do Momento Atual, nº 27.
[46]
Alain Merlet, Entrevistas do Momento Atual, nº 7.
[47]
J.-A. Miller, Entrevistas do Momento Atual, nº 1.
[48]
J.-A. Miller, Entrevistas do Momento Atual, nº 33.
[49]
Daniela Fernandez, Entrevistas do Momento Atual, nº 11.
[50]
Yasmine Grasser, Entrevistas do Momento Atual, nº 4.
[51]
Francesca Biaggi-Chai, Entrevistas do Momento Atual, nº 9.
[52]
Philippe de Georges, Entrevistas
do Momento Atual, nº 15.
[53]
Serge Cottet, Entrevistas do Momento Atual, nº 21.
[54]
Didier Kuntz, Entrevistas do Momento Atual, nº 19.
[55]
Simone Souto, Entrevistas do Momento
Atual, nº 15.
[56]
Esthela Solano, Entrevistas do
Momento Atual, nº 6.
[57]
Irène Krassilchik, Entrevistas do Momento Atual, nº 10.
[58]
Gustave Dessal, Entrevistas do Momento Atual, nº 3.
[59]
Phillipe De Georges, Entrevistas do Momento Atual, nº 15.
[60]
J.-A. Miller, Entrevistas do Momento Atual, nº 2.
[61]
J.-A. Miller, Entrevistas do Momento Atual, nº 9.
[62]
Serge Cottet, Entrevistas do Momento Atual, nº 21.
[63]
Yasmine Grasser, Entrevistas do Momento Atual, nº 4.
[64]
Alain Merlet, Entrevistas do Momento Atual, nº 7.
[65]
Dalila Arpin, Entrevistas do
Momento Atual, nº 15.
[66]
Joëlle Joffe, Entrevistas do
Momento Atual, nº 27.
[67]
Pascale Fari, Entrevistas do Momento Atual, nº 10.
[68]
Miquel Bassols, Entrevistas
do Momento Atual, nº 27.
[69]
Miller, J.-A. (2005). Efeitos terapêuticos rápidos em psicanálise: conversação
clínica com Jacques-Alain Miller em Barcelona. Escola Brasileira de
Psicanálise, Belo Horizonte: Scriptum Livros, 2008, p. 39.
[70]
Pierre-Gilles Guéguen, Entrevistas
do Momento Atual, nº 35.
[71]
Lacan, J. (1959-1960). O Seminário, livro 7: A Ética da Psicanálise. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997, p.353.
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