07/04/2012

O homem de 40


A sabedoria que se obtém aos 40...






Dizem que depois dos 30 o homem começa a sentir a degradação do corpo. Começa aparecendo uma barriguinha, no início pequena, quase imperceptível, e que contribui até mesmo para um certo charme. Nem incomoda. Traz até um certo status de maturidade, até mesmo símbolo de virilidade. O problema é que a barriguinha evolui com o passar dos anos. E vira, fatalmente, um conjunto: barriga, pochete e pneu, sendo que a contiguidade entre eles dificulta até mesmo estabelecermos os limites entre um e outro.


O problema maior é que o que antes dos 30 era fácil de perder começa a tornar-se um pouco mais complicado, e só uma caminhadinha ou um rolê de bicicleta são insuficientes pro corpo voltar à forma. Parece que o corpo se recusa a abrir mão daqueles pneuzinhos a mais, talvez por alguma sabedoria celular corporal inconsciente, que saberia a necessidade de uma barriguinha mais pronunciada ou de um pneuzinho mais torneado, fazendo questão de mantê-los presos ao corpo, como um mantimento que economizamos em tempos de guerra.
Eu confesso que não senti no corpo a passagem dos 30, talvez por uma sabedoria celular corporal inconsciente, que me possibilitou uma adaptação suave e indolor à nova forma. A barriguinha foi crescendo devagar, diretamente proporcional ao aumento das responsabilidades da vida adulta, e inversamente proporcional à quantidade de cabelos em cima da cabeça. O corpo é sábio, ele sabe economizar a energia vital nos lugares certos...

... é, a sabedoria celular... me tirou os fios da cabeça porque devia precisar concentrar a energia em algum outro lugar... só pode. Ou porque os fios deviam atrapalhar o fluxo de energia... já que os fios de cabelo se magnetizam, tanto que quando passamos (passávamos!) a caneta bic no cabelo os fios levantam (levantavam!)... vai ver é por aí. Essa tal sabedoria celular é esperta mesmo... enfim, só acho que a sabedoria celular devia ao menos consultar a sabedoria da consciência antes de tomar uma atitude tão radical, principalmente nessas decisões tão importantes...

Agora, com os 40 se aproximando, não fui informado – pelo menos não ainda – de algum axioma dos 40, algo correlato ao “axioma da barriguinha dos 30”. O problema da barriguinha, nessa idade, está em geral completamente superado, graças à maturidade que acompanha a idade, através da compreensão profunda do famoso “axioma do remédio”:  “o que não tem remédio, remediado está” (também conhecido no padrão inculto como “ligar o foda-se”).

O homem dos 40 é prático. Dedica-se a resolver problemas, e geralmente é pago pra isso. Normalmente, se não se separou dos 30 aos 40, não se separa mais, porque é o tipo do homem que (finalmente) aprendeu a viver com uma mulher. Com um domínio mais aprofundado da sabedoria celular corporal inconsciente, desliga como um mestre iogue os órgãos sensoriais auditivos, aperfeiçoando o que a tradição milenar chamaria de “audição seletiva” (popularmente conhecido como “entra por um ouvido e sai pelo outro”), constituindo a mais perfeita paz e harmonia na vida conjugal.

O homem dos 40 é aquele que passou finalmente a tratar as coisas sérias com simplicidade, e as coisas simples com seriedade, como um verdadeiro sábio chinês. Talvez por isso o homem de 40 trate com tanta seriedade alguns rituais aperfeiçoados através de muita prática, disciplina, determinação, sejam eles os etílicos, os gastronômicos, os esportivos, os musicais, e os autísticos. Eles podem estar separados, mas geralmente funcionam muito bem juntos, combinados. 

É uma mudança importante de perspectiva, mais que filosófica, ontológica: o dilema aos 40 passa a ser se a barriga dos 30 – aquela que a gente aprendeu a conviver – deve ficar por cima do cinto ou se a gente puxa a calça e aperta o cinto no meio da barriga...